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Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O estudo foi considerado uma contribuição significativa dentro da área neurológica e com implicações médicas adicionais também nas áreas das Neurociências.

O trabalho e a dedicação na pesquisa básica trouxeram um importante reconhecimento, no ano passado, para o professor Alberto Antônio Rasia Filho, do Departamento de Ciências Básicas da Saúde/Fisiologia da UFCSPA. Formado em Medicina pela FFFCMPA (atual UFCSPA), doutor em Ciências Biológicas:Fisiologia (UFRGS) e pesquisador do CNPq, vinculado aos PPGs em Biociências (UFCSPA) e Neurociências (UFRGS), ele concentrou esforços para elucidar algumas de suas interrogações sobre a relação entre a morfologia neuronal e sua repercussão para a função complexa do cérebro humano. Com um grupo de pesquisadores, Rasia recebeu o importante Prêmio Austregésilo da Academia Nacional de Medicina pela pesquisa "O continuum subcortical-alocórtex-neocórtex de surgimento dos neurônios piramidais humanos: implicações filogenéticas, morfológicas, funcionais e patológicas". Premiado como o melhor trabalho na área de Sistema Nervoso Central, honraria concedida a cada cinco anos, envolvendo Clínica, Patologia e Experimentação em Neurologia, Neuroendocrinologia ou Neurocirurgia, o estudo representa referência importante para compreender o local de surgimento e como os diversos tipos neuronais estão envolvidos nas vias nervosas normais e alteradas, como no caso de doenças neurodegenerativas ou quando ocorre epilepsia e transtornos do espectro autista. 

Rasia explica que o foco do estudo foi desvendar como e por que se desenvolveram especificamente os neurônios denominados piramidais, um dos principais do córtex cerebral, no ser humano. É interessante que esse tipo de neurônio pode fazer mais processamento de informações e se relacionar com a necessidade dos animais de lidarem de forma complexa com o seu ambiente como, por exemplo, relacionando a expressão facial de outro indivíduo com a identificação e elaboração de emoções. “Há dados na literatura que indicam que áreas inicialmente abaixo do córtex cerebral iniciaram esse desenvolvimento para aumentar a capacidade de se ter mais comportamentos sociais”, explica. Assim, iniciou a pesquisa a partir da constatação de que os neurônios piramidais poderiam surgir em uma estrutura subcortical cerebral, chamada de amígdala, mas não em todos os seus núcleos. Somente os núcleos de ocorrência evolutiva mais recente apresentam neurônios piramidais cuja forma vai se modificando até atingir uma complexidade maior no córtex cerebral mais antigo (alocórtex, onde está o hipocampo que processa a formação da memória) e no mais recente (neocórtex, onde se elaboram conjuntamente as atividades como consciência, pensamento abstrato e atos motores complexos, dentre outros). Os neurônios piramidais e seus locais de conexão, as sinapses para conexão de múltiplas vias nervosas, passam a ser fundamentais para que muitas outras funções possam ser executadas por um cérebro que se obriga a ter um volume restrito dentro da caixa craniana. Aumentar o quanto cada neurônio pode receber de dados e gerar novas funções foi a estratégia para elevar a capacidade nervosa animal, principalmente a humana. Desse conhecimento, chamou a atenção a possibilidade de existir também algum grau de vulnerabilidade a doenças nesse tipo de neurônio e nessas áreas nervosas específicas. “A doença de Alzheimer apresenta células atrofiadas em área subcortical, notavelmente na amígdala, o que se acompanha depois nas demais áreas corticais, fato que é coincidente com o padrão de ocorrência visto para os neurônios piramidais” e, a partir disso, “onde poder-se-ia estudar como interferir no surgimento e na progressão de tal doença”. 

Além de Rasia, o trabalho teve a participação dos pesquisadores Maria Elisa Calcanhoto, Carlos Escobar Vásquez, Aline Dall'Oglio, Cláudio Rosito Jung e Roman Reberger. O estudo foi considerado uma contribuição significativa dentro da área neurológica e com implicações médicas adicionais também nas áreas das Neurociências. Ainda em 2016, consagrando a contribuição atingida, novo reconhecimento veio com o “Prêmio Professor Garcia do Padro de Anatomia Humana”, concedido pela Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Alberto Rasia espera que sua pesquisa auxilie igualmente outros pesquisadores em seus estudos relacionados ao funcionamento do cérebro humano, juntando morfologia e função celulares com o quanto a atividade nervosa pode processar e gerar de informações a cada instante.

Austregésilo, o pai da neurologia brasileira 

O Prêmio Austregésilo é uma homenagem a Antônio Austregésilo Rodrigues Lima, criador da primeira escola de Neurologia do Brasil. Austregésilo nasceu em Recife, Pernambuco, em 1876, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1960. Foi o primeiro professor da Cátedra de Neurologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1912. Também se destacou como um dos precursores da psicanálise no Brasil. Foi presidente da Academia Nacional de Medicina (1934-1937, 1945-1947 e 1949/1951) e da Academia Brasileira de Letras (1939) e é considerado o pai da Neurologia brasileira.

Texto: Araldo Neto

ADverso/Edição 224 - Janeiro/Fevereiro - 2017